vieiracalado-poesia.blogspot.com

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domingo, 12 de março de 2017

Leste nas estrelas

o

Leste no rosto lesto das estrelas
o fulgor obstinado dos átomos do hidrogénio,
os átomos do mais ínfimo alimento da utopia,
a sua inconsciente ciência, o seu credo austero
na probabilidade duns olhos fascinados

e percebeste a força interior universal
que anseia os equilíbrios, o plano horizontal
na harmonia dos espaços e horizontes,
desentorpecendo a bruma das montanhas,
despertando-a em enérgicos impulsos de energia.

Leste a sina das árvores numa pedra
adormecida sob outras pedras,
acaso portadoras dos signos do enigma
que procuras no abandono dum jovem morto
apodrecendo ao frio da tarde que não volta.

Leste as profecias escritas na música arrebatada
dalgum músico, ou dum outro visionário
da fraterna condição do homem,
na Terra exausta de cansaço e angústia
de ver a agonia de seus filhos subvertendo a luz.

Leste a tua sina nas cinzas da inocência
como a duma árvore que esquece o tempo
e arde para os outros como se fosses tu mesmo
quando vier o frio aos ossos, no outono.

terça-feira, 7 de março de 2017

Junto ao mar, nesta Baía



Junto ao mar, nesta baía suave de azul cobalto,

deixo-me envolver nos confins do pensamento,

o recorte do céu, a expressão mais nua do chão



e contemplo a narrativa das areias desta praia,

a voz antiga que desfez a pedra dos montes

no tumulto das grandes impiedosas chuvas.



O meu arrebatamento é a história que leio

nos veios engendrados pelo refluxo da maré,

as algas deixadas junto ao limite das águas



a própria índole maiúscula dos grãos de areia

que jazem ao sabor da vastidão dos abismos

traçados nos penhasco descidos da montanha.



Ela ensina-me a sedução pela espuma rigorosa

das vagas vindas de longe, trazidas no vento,

as correntes telúricas das montanhas do mar



e mostra-me o decurso inteiro e obstinado

que vejo nas conchas despojadas de moluscos,

nas algas que sucumbiram à força do tempo.



Aqui me atenho e entendo este abraço fraternal

das águas ajuntado os restos terminais da terra

antes do grande dilúvio da paz do sol poente



e ergo a minha voz e canto os espaços libertos

na voz multifacetada das águas do grande mar,

o azul pálido da vastidão pluricolor dos céus.



em MARENOSTRUM, a publicar em Maio, na "8ª  Mostra de Livros de Autores de Lagos"